ANEMIA EM SÉRIE DE CASOS TRATADOS COM ARTESUNATO PARENTERAL PARA MALÁRIA FALCIPARUM GRAVE: NECESSIDADE DE SEGUIMENTO PROLONGADO
EDWIGES MOTTA SANTOS1, ANIELLE PINA-COSTA1, RENATA SARAIVA PEDRO1, CLAUDIO TADEU DANIEL-RIBEIRO1, PATRICIA BRASIL1, ANDRÉ MACHADO SIQUEIRA1
1. INI - FIOCRUZ - Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas - Laboratório de Doenças Febris Agudas, 2. CPDMAL - FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz - Laboratório de Pesquisa em Malária
edwigesmotta@yahoo.com.br

A infecção por P.falciparum ainda é de importância diagnóstica no Brasil já que possui morbidade e mortalidade aumentadas pelo atraso no diagnóstico (em viajantes em áreas não endêmicas) e pela gravidade própria do parasito. Assim, os derivados de artemisinina de uso parenteral são recomendados como primeira linha para malária falciparum grave, em todo o mundo. O artesunato venoso (ART) é usado por sua eficácia e rapidez no clareamento parasitário . Apesar de ser uma droga segura a ocorrência de anemia  hemolítica tardia em pacientes tratados com ART  vem sendo relatada.

Análise retrospectiva a partir da revisão de prontuário de pacientes internados em hospital de referência no RJ com malária falciparum grave e tratamento com derivados de artemisinina.

De 2005-2018 foram analisados dados de 34 pacientes internados com diagnóstico de malária por P.falciparum e uso de derivados de artemisina , dos quais 38,2% com parasitemia >100.000p/mm 3 . A maioria retornava de países africanos. À admissão, três pacientes (8,8%) apresentavam hemoglobina (Hb) ≤8g/dL e receberam pelo menos um concentrado de hemácias. Outros quatro pacientes (11,7%) com Hb ≤10g/dL. Dois pacientes evoluíram para óbito. A administração de ART e clindamicina por via intravenosa (IV) foi a combinação de escolha para o tratamento de 23 casos (67,6%) seguido de ART com mefloquina por via oral em oito casos (23.5%), artemeter com lumefantrina em três casos (8.8%). Dos 23 pacientes que usaram ART IV, sete (30,4%) evoluíram com anemia tardia (2-3 semanas pós tratamento). A mediana da Hb destes pacientes foi 6.27g/dL.

A anemia na malária grave por P.falciparum  ocorre, provavelmente, pelo aumento da proporção de hemácias parasitadas, acompanhado da destruição aumentada de células não parasitadas por estresse oxidativo gerado de forma aguda, em resposta ao parasita. A anemia tardia,   observada em sete casos tratados com artesunato parenteral, apresenta curso monofásico e a fisiopatogenia envolve a expulsão dos parasitas das hemácias pelo ART. Essas células, previamente parasitadas, ficam marcadas (pitting) e sofrem hemólise quando entram novamente na circulação sanguínea.

Faz-se necessário que os profissionais de saúde estejam cientes desta complicação e aumentem a vigilância para determinar mais precisamente o período de desenvolvimento e a gravidade da anemia hemolítica. Pessoas tratadas para malária grave com ART devem ser acompanhadas por cerca de quatro semanas após o tratamento.



Palavras-chaves:  Anemia , Anormalidades induzidas por medicamentos, Artesunato, Malária, Plasmodium falciparum