EFEITOS DA ADMINISTRAÇÃO DE ERITROPOIETINA NA DOENÇA DE CHAGAS EXPERIMENTAL AGUDA E CRÔNICA |
A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, afeta cerca de sete milhões de pessoas em todo o mundo. A manifestação clínica mais importante é a cardiomiopatia chagásica que acomete cerca de 30% dos indivíduos com a infecção crônica. As drogas tripanocidas, apesar de reduzirem a parasitemia, não são capazes de impedir o aparecimento das lesões no coração. Desta forma, não existe tratamento eficaz. A eritropoietina (Epo), glicoproteína que regula a produção de eritrócitos, também possui efeito cardioprotetor reduzindo o processo de apoptose, inflamação e isquemia do miocárdio. Contudo, não se sabe se a Epo pode ser usada como ferramenta terapêutica nas infecções pelo T. cruzi. Assim, este estudo visa investigar o possível efeito cardioprotetor da Epo na doença de Chagas. Camundongos foram divididos em cinco grupos: não infectados e não tratados; infectados pelo T. cruzi e não tratados; tratados com Epo antes da infecção (EpoI); infectados e tratados com Epo na fase aguda (IEpoA) e infectados e tratados na fase crônica (IEpoC). Os animais foram infectados com 105 parasitos. Os camundongos tratados receberam 2000 U/kg de Epo em dias alternados: durante 30 dias antes da infecção para o grupo EpoI (efeito protetor); do 1º ao 30º dia pós-infecção (dpi) para o grupo IEpoA e do 120º ao 150º dpi para o grupo IEpoC (efeito terapêutico). Os animais foram eutanasiados com 180 dpi. A atividade de marcadores de lesão cardíaca (creatina quinase total–CKt e a fração miocárdica–CKMB) foi medida em diferentes momentos. Análise histopatológica do coração foi realizada com 180 dpi, assim como a carga parasitária no sangue e no coração determinada por qPCR. A atividade da CKt nos animais que receberam Epo após a infecção foi mais baixa que nos outros grupos. Entretanto, a atividade da CKMB ao longo da infecção não foi diferente entre os animais tratados e não tratados. Foi observado que a administração de Epo reduziu a necrose de cardiomiócitos e a quantidade de infiltrado inflamatório multifocal. Não foi visto fibrose cardíaca em nenhum grupo. A qPCR foi positiva nos corações de todos os animais infectados sem diferença significativa entre os diferentes grupos. A carga parasitária sanguínea foi semelhante em todos os grupos que receberam Epo. Desta forma, parece que a administração de Epo não afeta o número de parasitos nos tecidos. Entretanto, os outros resultados sugerem um possível efeito cardioprotetor da Epo na doença de Chagas experimental. |