SURTO DE FEBRE Q EM CADETES DO CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO |
A febre Q é uma zoonose contagiosa causada por Coxiella burnetii , uma bactéria que infecta várias espécies animais, inclusive humanos. Embora a maioria das infecções humanas seja assintomática ou doença inespecífica com febre, cefaleia e mialgia, pneumonia ou hepatite, casos graves e persistentes, especialmente hepatite crônica e endocardite ou casos fatais podem ocorrer. A infecção é transmitida pelo contato com secreções, principalmente produtos de nascimento dos ruminantes domésticos, principais reservatórios. A inalação é a via de infecção mais comum. Em outubro/2016, cinco cadetes, homens de 20-25 anos, com doença febril aguda e história de treinamento de sobrevivência militar em Ribeirão das Lajes/RJ, foram atendidos no Hospital Central do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Os pacientes relataram picadas de carrapatos e contato com animais abatidos para consumo próprio, especialmente uma cabra, sob condições de sobrevivência no campo. Dos cinco pacientes, um paciente apresentou pneumonia grave com insuficiência respiratória. A radiografia de tórax demonstrou infiltrado pulmonar em todos pacientes. Devido à possibilidade de doença associada a carrapatos, o tratamento empírico com Doxiciclina 200 mg/dia foi iniciado, após coleta de sangue e lavagem broncoalveolar (LBA) de um deles que evoluiu para insuficiência respiratória. Todos pacientes recuperaram e tiveram alta. Um teste de imunofluorescência indireta comercial (IFA) (Focus) para C. burnetii foi realizado em quatro amostras sequencais de soro e houve soroconversão em todos casos. A análise molecular detectou DNA de C. burnetii no LBA, com uma identidade de sequência de 99% com o fragmento do gene homologus do gene htpAB de C. burnetii RSA 331. Em adição foram analisadas amostras de soro de 47 cadetes saudáveis que foram não reativas. Como a fonte provável de infecção foi a cabra, uma investigação de campo foi realizada e amostras de sangue e de swab anal coletadas de 12 cabras em propriedades comerciais, onde os cadetes compraram o animal, foram analisadas por IFA e PCR, com resultado negativo. Os resultados deste estudo em associação com os surtos identificados em militares no mundo e o crescente número de casos relatados nas Américas reforçam a necessidade de mais pesquisas que possam auxiliar na compreensão da importância de C burnetii como agente causador de infecção na população geral e do significado militar da febre Q no Brasil. |