SURTO DE FEBRE Q EM CADETES DO CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ELBA REGINA SAMPAIO DE LEMOS 1, TATIANA ROZENTAL1, BIBIANA NOGUEIRA SIQUEIRA1, RAPHAEL GOMES DA SILVA1, THAYS EUZÉBIO JOAQUIM1, ADONAI ALVINO JR1, CAROLINA DE ANDRADE LEITE1, ADRIANA ALVAREZ ARANTES1, MARISÂNGELA FERREIRA DA CUNHA1, DANIELLE PROVENÇANO BORGHI1
1. IOC/FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, 2. CBMERJ - Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro
elemos@ioc.fiocruz.br

A febre Q é uma zoonose contagiosa causada por Coxiella burnetii , uma bactéria que infecta várias espécies animais, inclusive humanos. Embora a maioria das infecções humanas seja assintomática ou doença inespecífica com febre, cefaleia e mialgia, pneumonia ou hepatite, casos graves e persistentes, especialmente hepatite crônica e endocardite ou casos fatais podem ocorrer. A infecção é transmitida pelo contato com secreções, principalmente produtos de nascimento dos ruminantes domésticos, principais reservatórios. A inalação é a via de infecção mais comum. Em outubro/2016, cinco cadetes, homens de 20-25 anos, com doença febril aguda e história de treinamento de sobrevivência militar em Ribeirão das Lajes/RJ, foram atendidos no Hospital Central do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Os pacientes relataram picadas de carrapatos e contato com animais abatidos para consumo próprio, especialmente uma cabra, sob condições de sobrevivência no campo. Dos cinco pacientes, um paciente apresentou pneumonia grave com insuficiência respiratória. A radiografia de tórax demonstrou infiltrado pulmonar em todos pacientes. Devido à possibilidade de doença associada a carrapatos, o tratamento empírico com Doxiciclina 200 mg/dia foi iniciado, após coleta de sangue e lavagem broncoalveolar (LBA) de um deles que evoluiu para insuficiência respiratória. Todos pacientes recuperaram e tiveram alta. Um teste de imunofluorescência indireta comercial (IFA) (Focus) para C. burnetii foi realizado em quatro amostras sequencais de soro e houve soroconversão em todos casos. A análise molecular detectou DNA de C. burnetii no LBA, com uma identidade de sequência de 99% com o fragmento do gene homologus do gene htpAB de C. burnetii RSA 331. Em adição foram analisadas amostras de soro de 47 cadetes saudáveis qu​​e foram não reativas. Como a fonte provável de infecção foi a cabra, uma investigação de campo foi realizada e amostras de sangue e de swab anal coletadas de 12 cabras em propriedades comerciais, onde os cadetes compraram o animal, foram analisadas por IFA e PCR, com resultado negativo. Os resultados deste estudo em associação com os surtos identificados em militares no mundo e o crescente número de casos relatados nas Américas reforçam a necessidade de mais pesquisas que possam auxiliar na compreensão da importância de C burnetii como agente causador de infecção na população geral e do significado militar da febre Q no Brasil.



Palavras-chaves:  Cadetes, Coxiella burnetii, Febre Q, Rio de Janeiro