SÍFILIS CONGÊNITA: É POSSÍVEL SUA ELIMINAÇÃO COMO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA?
NATHÁLIA LEITE LINO DE FARIAS1, ALETHEIA SOARES SAMPAIO1, ANA LUCIA RIBEIRO DE VASCONCELOS 1
1. FIOCRUZ PE - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
analucia@cpqam.fiocruz.br

A sífilis permanece um problema de saúde pública de expressiva magnitude e a sífilis congênita tem consequentemente se elevado, apesar de ser prevenida por meio de ações efetivas de diagnóstico precoce e tratamento da gestante e seu parceiro. Com os avanços tecnológicos, os anticorpos treponêmicos podem ser detectados rapidamente, mesmo em locais sem infraestrutura laboratorial, mediante a utilização de testes rápidos ou de conjuntos diagnósticos de fácil execução. E a penicilina continua sendo o fármaco de eleição e o único capaz de tratar mãe e concepto. Com o objetivo de analisar a magnitude da sífilis congênita no estado de Pernambuco, no período de 2010 a 2014 (consolidados até 17/03/2017), e descrever os fatores associados a esse evento sentinela de qualidade do pré-natal, realizou-se um estudo transversal, utilizando-se dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Dentre 4.149 casos notificados/confirmados, 74,4% das mães haviam feito pré-natal, 16,3% não o realizaram e 9,3% não possuíam esta informação. Dos 3.085 casos cujas mães fizeram pré-natal, apenas 1.438 (46,6%) foram diagnosticadas nesse momento, e dessas, somente 95 (6,6%) foram tratadas adequadamente. Esses 95 casos, contudo, se configuram reinfecção uma vez que a sífilis congênita foi confirmada. Analisando-se os 993 casos (69,1%) tratados inadequadamente, constata-se que em 797 (79,3%) a razão foi o não tratamento do parceiro. A baixa qualidade pré-natal reflete no aumento da taxa de detecção de sífilis congênita (por 1.000 nascidos vivos), que passou de 3,57 em 2010 para 8,92 em 2014 (149,86% de acréscimo). Essa taxa, segundo características sociodemográficas das mães, foi maior nas mulheres com idade entre 20 e 29 anos (3,07 vs 1,13 com 30 ou mais anos e 1,47 com menos de 20 anos de idade); da raça/cor preta/parda (4,36 vs 0,73 nas branca); ter menos de nove anos de estudo (3,39 vs 1,13 com nove anos ou mais); e residir na zona urbana (5,27 vs 0,38 na zona rural). Outros estudos corroboram esses resultados que apontam falhas na assistência pré-natal e condições de maior vulnerabilidade social como as que devem ser observadas para o enfrentamento da sífilis/sífilis congênita. Somente quando os Programas/Serviços de Saúde adquirirem a prática de “olhar por dentro” suas intervenções é que, as metas propostas serão alcançadas, e os recursos melhor empregados para promover a saúde da população.



Palavras-chaves:  sífilis, sífilis congênita , Cuidados pre-natal, assistencia à saúde