LEISHMANIOSE VISCERAL EM ÁREA DE BAIXA ENDEMICIDADE – DOENÇA SUBDIAGNOSTICADA EM ADULTOS |
Introdução: A leishmaniose visceral (LV) é doença com altas letalidade e incidência no Brasil, sendo considerada emergente e de ampla distribuição. O diagnóstico é muitas vezes tardio devido aos sintomas pouco específicos como febre, hepatoesplenomegalia e consumpção, principalmente em áreas de transmissão esporádica ou moderada, como Cuiabá e cidades próximas, em que as unidades de saúde estão menos alertadas para seu diagnóstico. Descreve-se aqui uma série de casos de LV atendidos na referência estadual para leishmanioses. Metodologia e Resultados: Os pacientes foram atendidos no HUJM, no ambulatório ou em regime de internação, e os dados foram obtidos por avaliação retrospectiva de prontuários ou prospectivamente nos casos mais recentes. Relatam-se 10 casos atendidos entre 2015 e 2018, 9 do sexo masculino, faixa etária entre 18 a 76 anos (média de 39), com ocupação em ambiente rural em 60% (4 lavradores, 1 agrônomo e 1 moradora de assentamento rural), com tempo de sintomas entre 1 a 36 meses. Comorbidades relatadas incluíram HAS, hanseníase, tuberculose, Chagas, hiperplasia prostática e vitiligo, com 1 caso de HIV. Um paciente apresentou leishmaniose cutânea (LC) simultânea à LV. Em 40% o diagnóstico inicial foi outro; um com HD de evento adverso por tuberculostáticos; 2 com HD de linfoma, 1 deles submetido à esplenectomia; e, 1 caso com HD de sepse por foco pulmonar. Apresentaram hepatoesplenomegalia (90%), febre (80%), astenia e mialgia (50%), perda de peso (50%), epistaxe e hematêmese (20%); outros menos comuns foram tosse, dispneia e dor abdominal. Quanto aos exames laboratoriais, todos apresentaram citopenia, 90% com pancitopenia. Em 100% o aspirado de medula óssea foi positivo; 2 pacientes com teste rápido, positivo em ambos. Feito anfotericina B deoxicolato em 1 caso, evolução com nefrotoxicidade e mudança da medicação; anfotericina lipossomal em 7 (dose de 20-35mg/kg), Glucantime® em 2 (dose/dia de 18-20mg/kg). Os desfechos foram de cura clínica em 8, um óbito e 1 com perda do seguimento. Discussão: Houve predomínio em homens adultos, trabalhadores rurais, com diagnóstico tardio ou outros diagnósticos. A baixa endemicidade em nossa realidade, com consequente presença da doença em todas as faixas de idade, pode levar a um baixo reconhecimento da doença não considerada no diagnóstico inicial mesmo na síndrome clínica clássica. Temos observado casos de lesão cutânea e doença visceral associada. |