MODELO EXPERIMENTAL DE INFECÇÃO ORAL PELO TRYPANOSOMA CRUZI REVELA ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS E HEMOSTÁTICAS NA FASE AGUDA
DINA DE JESUS MARINHEIRO ANTUNES 1
1. FIOCRUZ, IOC - Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz
dinadejesusantunes@gmail.com

A infecção oral pelo Trypanosoma cruzi , agente etiológico da Doença de Chagas, é a via de transmissão com maior registro de casos no Brasil nos dias de hoje. Outros países da América Latina também reportaram surtos associados ao consumo de alimentos contaminados. Esta via de infecção apresenta sintomas específicos como edema de face e de membros inferiores e, em alguns casos, hemorragias e trombose. Mesmo assim, ainda existem poucos estudos que abordam esta via de transmissão tanto ao nível da sua patogênese quanto, mais especificamente, ao nível do sistema hemostático e sua interação com o sistema imune. Neste trabalho, camundongos BALB/c com idade entre 6±8 semanas foram infectados por via oral com 5x10 4 tripomastigotas metacíclicos da cepa Tulahuén derivados de excreta de insetos Triatoma infestans . Os animais foram tratados de acordo com as regras do comitê de ética em pesquisa animal da Fundação Oswaldo Cruz. Quando comparados com os controles, os animais infectados apresentaram altas concentrações séricas de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IFN-γ e IL-6). As dosagens de citocinas aumentaram no decorrer da fase aguda e as maiores concentrações foram obtidas no pico da parasitemia. Os hemogramas demonstraram uma trombocitopenia nos animais infectados aos 14 e 21 dias pós-infecção (dpi) e leucocitose aos 21 dpi. O ensaio de sangramento de cauda mostrou que os animais perdem mais sangue ao longo da infecção, particularmente aos 21 dpi. As concentrações dos fatores de coagulação variaram durante a infecção com um aumento de FV e diminuição de FVIII aos 14 dpi indicando distúrbios na cascata de coagulação. Os ensaios de aPTT (Tempo de tromboplastina parcial ativada) e PT (Tempo de protrombina) mostraram um aumento do tempo de coagulação aos 21 dpi. Além disso, ensaios de bloqueio de IL-6R indicaram melhorias nos animais infectados com tempos de coagulação semelhantes aos controles, demonstrando a importância de IL-6 na hemostasia durante a fase aguda da infecção oral. Estes resultados demonstram, pela primeira vez, que a infecção oral pelo T. cruzi , resulta em alterações significativas no sistema hemostático e mostram a relevância do crosstalk entre inflamação e coagulação nesta doença parasitária.



Palavras-chaves:  citocinas, doença de Chagas, hemostasia, infecção oral, inflamação