ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA E CO2 SOBRE O GENE Kdr EM POPULAÇÕES DE Aedes aegypti NA CIDADE DE MANAUS |
Aedes aegypti é o principal vetor dos vírus da febre amarela, chikungunya, dengue e zika, constituindo importante problema de saúde pública em regiões tropicais e subtropicais. Possui alta capacidade adaptativa, estando o controle químico dessa espécie ameaçado, devido ao desenvolvimento de resistência a diversos inseticidas, dentre eles os piretróides. Essa resistência, conhecida como Kdr ( Knockdown resistance ), decorre de uma série de mutações pontuais em diferentes sítios do gene do canal de sódio. Em Manaus, a mutação mais comum é a transição G/A na primeira posição do códon 1016 do éxon 21 do gene. Essa mutação provoca a alteração de uma Valina por uma Isoleucina no sítio 1016 ( Val1016Ile ) do segmento S6 do domínio II do canal de sódio. Há uma grande preocupação com a influência que a temperatura e aumento de CO 2 na atmosfera podem exercer sobre essa mutação. Estima-se um aumento de 1,4 °C a 5,8 °C na temperatura média global e de 855 a 1300 ppm na concentração de CO 2 na atmosfera até 2100. Essas condições podem ter efeito sobre a adaptabilidade do A. aegypti em Manaus. O estudo teve por objetivo analisar a freqüência alélica da mutação G/A no gene Kdr de populações naturais e populações submetidas a aumento de temperatura e concentração de CO 2 . Foi analisado o DNA genômico de onze populações dessa espécie, quatro coletadas em 1999 (Centro, Cidade Nova, Compensa e Coroado) e quatro em 2016 (Novo Aleixo, Morro da Liberdade, Jorge Teixeira e Lírio do Vale), e três populações em condições simuladas de aumento de temperatura e concentração de CO 2 (microcosmos): sala 01 (controle), sala 02 (+2,5 ºC; +400 ppm) e sala 03 (+4,5 ºC; +800 ppm). O alelo mutante ( 1016Ile ) não foi detectado nas populações de 1999 e nas do Microcosmos, estando presente apenas nas populações naturais de 2016, com a maior frequência (0,4118) encontrada no Morro da Liberdade e a menor (0,2069). A ausência do alelo mutante nas populações de 1999 pode estar relacionada com a reinfestação, ainda recente de Manaus, em 1996. A falta de pressão seletiva dos inseticidas piretróides para Aedes em 1999, assim como nas salas do Microcosmos, contribuiu também para o desaparecimento do alelo mutante nestas populações. No entanto, nas populações de 2016, com a exposição dos mosquitos aos inseticidas piretróides durante as campanhas de controle, a frequência do alelo mutante tem sido crescente a partir de 1999 com o primeiro surto de doenças exantemáticas associadas ao A . aegypti . |