CONFIRMAÇÃO MOLECULAR DE CASOS CLÍNICOS DE CO-INFECÇÃO POR Mansonella ozzardi E M. perstans |
Os parasitos filariais Mansonella perstans e Mansonella ozzardi ocupam nichos ecológicos muito semelhantes: ambas as espécies apresentam como seus hospedeiros definitivos o homem, e as formas adultas se alojam na cavidade peritoneal; possuem o estádio de desenvolvimento conhecido como microfilária, que ocorre no sangue e que geralmente não apresenta periodicidade; e, além disso, ambas são transmitidas por insetos do gênero Culicoides . Esses parasitos filariais, intimamente relacionados, também têm sido comumente apontados como responsáveis por casos de co-infecção em grande parte da Floresta Tropical da América do Sul, com relatos do Brasil equatorial até a costa caribenha. Isso difere do que é esperado a partir do princípio da exclusão competitiva, pelo qual se assume que diferentes espécies de parasitos filariais ocupam nichos ecológicos distintos, e, consequentemente, os casos de co-infecção raramente ocorreriam. Entretanto, todos os relatos de co-infecção por M. perstans / M. ozzardi basearam-se apenas em diagnóstico microscópico, o qual é suscetível a vários equívocos, e, não surpreendentemente, a validade desses relatos tem sido questionada. Nesse trabalho, foi utilizado o método de sequenciamento Shotgun, na plataforma Illumina Hiseq, para recuperar as sequências mitocondriais (CO1 e 12S) e de DNA ribossomal nuclear (ITS-1) de M. perstans e M. ozzardi, de amostras de sangue de indivíduos diagnosticados por microscopia como casos de co-infecção. O estudo foi realizado em São Gabriel da Cachoeira, AM, Brasil, área endêmica de mansonelose. Os dados moleculares confirmaram a presença de ambos os parasitos nas amostras avaliadas e demonstram claramente a ocorrência de casos clínicos de co-infecção por parasitos filariais na Região Amazônica. Dessa forma, esses dados corroboram a ideia de que parasitos filariais que ocupam nichos ecológicos muito semelhantes podem coexistir no hospedeiro humano. Tal conclusão reforça a importância de se debater a segurança de modernas estratégias de mapeamento e controle de filarioses humanas, desenhadas com base no princípio teórico da exclusão competitiva. |