CONFIRMAÇÃO MOLECULAR DE CASOS CLÍNICOS DE CO-INFECÇÃO POR Mansonella ozzardi E M. perstans
JAMES LEE CRAINEY 1, TULLIO ROMAO RIBEIRO DA SILVA1, YAGO VINICIUS SERRA DOS SANTOS1, LORENA FERREIRA DE OLIVEIRA LELES1, FELIPE ARLEY COSTA PESSOA1, ANA CAROLINA PAULO VICENTE1, SERGIO LUIZ BESSA LUZ1
1. FIOCRUZ/ILMD - INSTITUTO LEONIDAS E MARIA DEANE, 2. FIOCRUZ/IOC - INSTITUTO OSWALDO CRUZ, 3. FIOCRUZ/IOC/PGBP - Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Biologia Parasitária, Instituto Oswaldo Cruz/IOC/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 4. FIOCRUZ/ILMD/PPGBIO - Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro (PPGBIO-Interação), Instituto Leônidas e Maria Deane/ILMD/FIOCRUZ, Manaus, AM, Brasil
lee.crainey@gmail.com

Os parasitos filariais Mansonella perstans e Mansonella ozzardi ocupam nichos ecológicos muito semelhantes: ambas as espécies apresentam como seus hospedeiros definitivos o homem, e as formas adultas se alojam na cavidade peritoneal; possuem o estádio de desenvolvimento conhecido como microfilária, que ocorre no sangue e que geralmente não apresenta periodicidade; e, além disso, ambas são transmitidas por insetos do gênero Culicoides . Esses parasitos filariais, intimamente relacionados, também têm sido comumente apontados como responsáveis por casos de co-infecção em grande parte da Floresta Tropical da América do Sul, com relatos do Brasil equatorial até a costa caribenha. Isso difere do que é esperado a partir do princípio da exclusão competitiva, pelo qual se assume que diferentes espécies de parasitos filariais ocupam nichos ecológicos distintos, e, consequentemente, os casos de co-infecção raramente ocorreriam. Entretanto, todos os relatos de co-infecção por M. perstans / M. ozzardi basearam-se apenas em diagnóstico microscópico, o qual é suscetível a vários equívocos, e, não surpreendentemente, a validade desses relatos tem sido questionada. Nesse trabalho, foi utilizado o método de sequenciamento Shotgun, na plataforma Illumina Hiseq, para recuperar as sequências mitocondriais (CO1 e 12S) e de DNA ribossomal nuclear (ITS-1) de M. perstans e M. ozzardi, de amostras de sangue de indivíduos diagnosticados por microscopia como casos de co-infecção. O estudo foi realizado em São Gabriel da Cachoeira, AM, Brasil, área endêmica de mansonelose. Os dados moleculares confirmaram a presença de ambos os parasitos nas amostras avaliadas e demonstram claramente a ocorrência de casos clínicos de co-infecção por parasitos filariais na Região Amazônica. Dessa forma, esses dados corroboram a ideia de que parasitos filariais que ocupam nichos ecológicos muito semelhantes podem coexistir no hospedeiro humano. Tal conclusão reforça a importância de se debater a segurança de modernas estratégias de mapeamento e controle de filarioses humanas, desenhadas com base no princípio teórico da exclusão competitiva.



Palavras-chaves:  Amazônia, Mansonella ozzardi, Mansonella perstans