PRATICAS SEXUAIS COMO FATOR PARA O AUMENTO DA INCIDÊNCIA DE HEPATITES VIRAIS EM HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS |
Inúmeros estudos ao longo dos anos têm descrito que homens que fazem sexo com homens (HSH) estão expostos a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como as hepatites virais. Recentemente, surtos de Hepatite A (HAV) e o aumento da incidencia da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) entre indivíduos HIV positivos, vêm sendo associados à praticas sexuais como sexo oro-anal e sexo desprotegido. O presente estudo teve como objetivo avaliar dados epidemiológicos, sorológicos e moleculares de dois grupos distintos de pacientes HSH atendidos em um ambulatório de hepatites virais. O primeiro grupo de HSH (HSH1, n=12) foi composto de pacientes com infecção aguda pelo HAV e o segundo (HSH2, n=10) composto de indivíduos com soroconversão prévia para anti-HCV. A detecção de anticorpos anti-HAV e anti-HCV foi realizada por ensaios imunoenzimáticos comerciais. Posteriormente, caracterização molecular através da PCR de transcriptase reversa qualitativa (RT-PCR), sequenciamento nucleotídico e análises filogenéticas. Para detecção qualitativa do RNA, foram analisadas as regiões VP1/2A do HAV (grupo HSH1) e NS5B do HCV (grupo HSH2). Todos do grupo HSH1 foram positivos para anti-HAV IgM entretanto, o HAV RNA foi detectado em oito indivíduos (8/12). De acordo com análises filogenéticas, todas as amostras pertenciam ao genótipo IA, com elevada homologia entre si (>99,9%) e com cepas identificadas em surtos entre HSH na Europa e Ásia. Apesar da circulação deste genótipo ser comum no Brasil, nossas sequências apresentaram uma baixa similaridade com cepas brasileiras. Em relação ao grupo HSH2, quatro amostras (4/10) anti-HCV positivas foram amplificadas e sequenciadas. Todas pertenciam ao genótipo 4/subgenótipo 4d que até o momento não havia sido descrita no Brasil e sendo filogeneticamente relacionado (97%) com uma cepa holandesa. Ambos os grupos HSH1 e HSH2 relataram práticas sexuais de risco. No grupo HSH1, seis relataram práticas de sexo oro-anal e/ou sexo desprotegido. No grupo HSH2, todos relataram relações sexuais desprotegidas em festas privadas. Além disso, quatro pacientes do HSH1 foram codiagnosticados com HIV e sífilis durante a infecção pelo HAV e nove do HSH2 eram soropositivos para HIV. A vigilância reforçada das hepatites virais em HSH é importante para investigar a disseminação de genótipos e cepas não comuns no país. Reforçar campanhas de conscientização são necessárias para controlar a disseminação viral por transmissão sexual em grupos mais expostos. |