HETEROGENEIDADE DA RESPOSTA ENDOTELIAL EM PACIENTES SINTOMÁTICOS COM MALÁRIA POR PLASMODIUM VIVAX |
No Brasil a infecção pelo P. vivax é o principal causador da malária, sendo responsável por cerca de 84% dos casos, 99% deles concentrados na região norte do país. Diversos estudos mostram que as infecções por P. vivax podem evoluir para formas graves e até ao óbito, mudando o paradigma de que a malária vivax é benigna. Nesse contexto, a ativação endotelial tem papel central na progressão para quadros graves, o que requer um melhor entendimento dos mecanismos imunopatológicos envolvidos nas alterações do endotélio, a fim de identificar potenciais alvos terapêuticos para os casos graves. Neste estudo, utilizamos amostras de plasma de indivíduos saudáveis e sintomáticos infectados pelo P. vivax , com o objetivo de avaliar como componentes solúveis do plasma, envolvidos com diferentes respostas do hospedeiro, participam na ativação e disfunção endoteliais. Para isso realizamos ensaio de multiplex para dosagem de três grupos de moléculas no plasma: marcadores de ativação/disfunção endotelial, resposta imune e coagulação. Em seguida, analisamos as relações entre as moléculas dosadas para identificar padrões de resposta dos pacientes frente à infecção pelo P. vivax . Nossos dados mostram que os pacientes vivax apresentam fenótipo de ativação e disfunção endoteliais, aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias e um estado procoagulante. Embora os pacientes apresentem sintomatologia clínica semelhante, há diferenças intrínsecas quanto à resposta frente ao parasita. Um subgrupo de pacientes, com menor parasitemia, tem um fenótipo de resposta semelhante aos indivíduos controle (Vivax low ), com menor grau de trombocitopenia e linfopenia, menor ativação/disfunção endoteliais, coagulação e citocinas pró-inflamatórias. No outro subgrupo (Vivax high ) há predominância de indivíduos com parasitemias mais altas, maior grau de trombocitopenia, linfopenia, ativação/disfunção endoteliais, produção de citocinas pró-inflamatórias e um maior estado pró-coagulante, o que indica um potencial de agravamento da doença nesses indivíduos. Análises ex vivo mostram que o plasma desses subgrupos de pacientes induz, diferencialmente, ativação e disfunção endoteliais, alteração da produção de diferentes citocinas e um fenótipo pró-coagulante. Em conjunto, nossos dados mostram que há uma heterogeneidade na intensidade das alterações endoteliais dentre os pacientes vivax sintomáticos, o que pode estar associado ao agravamento da doença em um determinado grupo de indivíduos e não em outro. |