Características Epidemiológicas da Febre Amarela Humana no Estado de São Paulo, 2017-2018
RUTH MOREIRA LEITE 1, ELIZA KEIKO ODA MOROI1, JULIANA YAMASHIRO1, LEILA DEL CASTILLO SAAD1, RODRIGO NOGUEIRA ANGERAMI1, SILVIA SILVA DE OLIVEIRA1
1. CVE - Centro de Vigilância Epidemiológica "Professor Alexandre Vranjac"
ruthml@gmail.com

Desde 2016 houve uma expansão sem precedentes da circulação do vírus da febre amarela na região Sudeste do Brasil atingindo número de casos e regiões que não eram atingidos desde a década de 1930. O estudo visa descrever as características epidemiológicas da febre amarela silvestre (FAS) em humanos no estado de São Paulo (ESP) de janeiro de 2017 até 15 de maio de 2018. É um estudo descritivo, com utilização de informações de diversas fontes públicas e privadas. Os casos foram confirmados considerando aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais (biologia molecular, imuno-histoquímica e/ou sorologia). No período analisado, foram reportados 1495 casos suspeitos à Divisão de Zoonoses (DVZOO) do Centro de Vigilância Epidemiológica “Professor Alexandre Vranjac” (CVE) da Secretaria de Estado da Saúde (SES) do ESP: 583 casos foram confirmados, 89,4% autóctones. Houve predomínio do sexo masculino (81,6%), a idade variou de 1 a 90 anos, com mediana de 43 anos. Os casos iniciaram em áreas com recomendação de vacina contra febre amarela (VFA), com expansão posterior para áreas sem recomendação, traçando um deslocamento norte-sul e oeste-leste, chegando até o litoral. Como consequência, praticamente todo o ESP é considerado área de recomendação de VFA atualmente. Dos 521 casos confirmados autóctones, 193 evoluíram a óbito (letalidade 37,0%). Nos 472 casos em que o dado estava disponível, a TGO variou de 5,94 a >14.000, com mediana de 2394. A bilirrubina total variou de 0,01 a 16,36, com mediana de 2,33. Quanto ao antecedente de VFA, 92 (17,6%) dos casos eram vacinados, dos quais 8  (1,5 % dos vacinados) deveriam estar imunizados quando apresentaram a doença. A maior proporção de casos (97,2 %) ocorreu em áreas onde não havia recomendação de vacina até 2017, com coberturas vacinais inferiores a 5%. A biologia molecular (PCR) conseguiu detectar material genético do vírus desde o dia do início dos sintomas (IS) até 48 dias após, sendo o exame confirmatório em 84,6% dos casos. A diferenciação entre febre amarela (doença) e evento adverso pós VFA é bastante complexa quando, na mesma região, estão ocorrendo casos da doença e intensificação da vacinação.  Diante desse cenário, o estabelecimento de um conjunto de critérios  (ter frequentado locais com circulação viral conhecida, RT-PCR em tempo real não detectada para vírus vacinal em nenhuma amostra, quadro clínico compatível, resultados de imuno-histoquímica) foi imprescindível para permitir a conclusão dos casos.



Palavras-chaves:  circulação viral, epidemiologia, São Paulo, vírus da febre amarela