INVESTIGAÇÃO DE INFECÇÃO POR Rickettsia rickettsii EM MAMÍFEROS SILVESTRES DE VIDA LIVRE EM ÁREA ENDÊMICA PARA FEBRE MACULOSA BRASILEIRA NO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL |
A febre maculosa brasileira (FMB) é causada principalmente por Rickettsia rickettsii , cujos reservatórios e vetores são os carrapatos, particularmente da espécie Amblyomma sculptum. Nos carrapatos há transmissão transovariana e transestadial e hospedeiros vertebrados atuam na infecção de novas linhagens. Capivaras ( Hydrochaeris hydrochaeris ) e gambás ( Didelphis spp.) são hospedeiros amplificadores. A infecção por riquétsias do grupo da febre maculosa (GFM) foi investigada em mamíferos silvestres capturados entre abril/2014 a março/2015 na área de proteção ambiental (APA) de Campinas, São Paulo, município responsável pelo maior número de casos notificados no estado. Amostras de sangue foram colhidas e destinadas à extração de DNA e obtenção do soro. A reação de imunofluorescência indireta foi empregada para pesquisa de anticorpos em amostras de soro de gambás diluídas de 1:64 a 1:2048, utilizando-se como antígeno R. rickettsii cepa Taiaçú. A reação em cadeia da polimerase (PCR) foi realizada utilizando-se primers para o gene glt A de Rickettsia spp. (CS-5/CS-6 e CS-239/CS-1069) e omp A de riquétsias do GFM ( Rr 190.70p/ Rr 190.602n). No total, foram amostrados 82 mamíferos das espécies: Callithrix jacchus (sagui-do-tufo-branco; n=8), Callithrix penicillata (sagui-do-tufo-preto; n=18), Didelphis albiventris (gambá-de-orelha-branca; n=43), Didelphis aurita (gambá-de-orelha-preta; n=11), Mazama gouazoubira (veado catingueiro; n=1) e Sciurus ( Guerlinguetus ) aestuans (esquilo; n=1). Anticorpos foram detectados na amostra de um D. albiventris , com título de 128, perfazendo soroprevalência de 1,8% (1/54; IC95% 0,04-9,8). Amostras sanguíneas de todos os mamíferos foram negativas à PCR. A detecção nessas amostras é rara, devido à localização endotelial das riquétsias e o curto período de riquetsemia, que em condições experimentais foi de 16-30 dias em D. aurita . Por outro lado, soroprevalência superior era esperada nesta área, endêmica para FMB, e devido ao papel dos gambás como hospedeiros amplificadores. A ausência de anticorpos ocorre em animais nunca infectados, mas também em recém-infectados que ainda não desenvolveram resposta imune ou infectados anteriormente, cujos anticorpos caíram a um nível indetectável, como foi demonstrado em gambás infectados experimentalmente. À medida que a FMB representa risco à saúde humana, o monitoramento da fauna silvestre é importante para elucidar o ciclo enzoótico das riquétsias e auxiliar na vigilância e controle da enfermidade. |