Anticorpos Anti-Trypanosoma cruzi em cães domésticos que habitam área de ocorrência de ciclo silvestre do parasita no estado de São Paulo, Brasil
LAÍS MORAES PAIZ 1, KARINE BOTT MANTOVAN1, MARIANA AIMEE RAMOS XAVIER DA SILVA1, BENEDITO DONIZETE MENOZZI1, HELIO LANGONI1, CLAUDIO LUIZ CASTAGNA1, ANDREA PAULA BRUNO VON ZUBEN1, ELEN FAGUNDES COSTA TELLI1, MARIA RITA DONALISIO1
1. FCM-UNICAMP - Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, 2. FMVZ-UNESP - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, 3. UVZ-DEVISA - Unidade de Vigilância de Zoonoses, Departamento de Vigilância em Saúde, Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, São Paulo
laismoraesp@gmail.com

O protozoário Trypanosoma cruzi é o agente da doença de Chagas, enfermidade negligenciada anteriormente restrita à América Latina, que se expandiu para áreas não endêmicas, especialmente devido à migração humana. Classicamente a enfermidade era transmitida por vetores reduvídeos da subfamília Triatominae, particularmente por Triatoma infestans , que foi responsável pela transmissão domiciliar durante anos no Brasil. Embora o país seja considerado livre dessa forma de transmissão desde 2006, ainda há transmissão vetorial extradomiciliar ou domiciliar sem colonização e, principalmente, surtos de transmissão oral. A circulação de T. cruzi entre gambás ( Didelphis spp.), considerados reservatórios do parasita, foi verificada na área de proteção ambiental (APA) do município de Campinas, São Paulo, com 3,7% (3/82) de prevalência. Os animais infectados foram capturados em 2014 e 2015 em condomínios residenciais, onde coabitam com humanos e animais domésticos. Para melhor avaliar a epidemiologia local, realizou-se investigação sorológica de cães domésticos, que, no Brasil, são propostos como sentinelas ao risco de transmissão humana. Foram avaliadas 547 amostras de soro sanguíneo de cães que residem na APA, colhidas em 2015 e 2016, utilizando-se a reação de imunofluorescência indireta com lâminas fixadas com antígeno de T. cruzi cepa Y. As amostras foram testadas em duplicata e diluídas a partir de 1:20 até a máxima diluição em que se apresentaram positivas. Foram positivas 21 amostras (21/547; 3,8%; IC95% 2,2-5,4), com os seguintes títulos de anticorpos: 20 (n=8; 38,1%), 40 (n=2; 9,5%), 80 (n=3; 14,3%), 160 (n=1; 4,8%), 320 (n=4; 19,0%), 640 (n=1; 4,8%), 2.560 (n=1; 4,8%) e 10.240 (n=1; 4,8%). Por se tratar de uma área de transmissão de leishmaniose visceral canina, reações cruzadas não devem ser descartadas, particularmente em amostras com títulos baixos. Entretanto, é notável a ocorrência de cães com títulos muito expressivos e, portanto, mais específicos. No Brasil, os cães frequentemente expõem-se a ciclos peridomésticos de transmissão, desenvolvendo anticorpos, sem apresentarem parasitemia, considerando o raro isolamento por hemocultura ou xenodiagnóstico nessa espécie. Assim, a presença de cães com sorologia positiva pode indicar a proximidade do ciclo de transmissão silvestre de T. cruzi à população humana na área de estudo. O levantamento da fauna e infecção de vetores é importante para avaliação dos riscos à saúde pública nessa área.



Palavras-chaves:  cães, doença de Chagas, sorologia