DESIGUALDADE RACIAL NA REALIZAÇÃO DE TESTAGEM DE HIV E CULTURA ENTRE PESSOAS COM TUBERCULOSE NO BRASIL, 2015
MARINA GASINO JACOBS1, DANIELE MARIA PELISSARI 1, FREDI ALEXANDER DIAZ-QUIJANO1
1. PNCT/MS - Programa Nacional de Controle da Tuberculose/Ministério da Saúde, 2. FSP/USP - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo/SP
daniele.pelissari@gmail.com

Introdução: No Brasil, as pessoas negras estão mais expostas a condições de vida precárias, aumentando o risco de doenças transmissíveis, como a tuberculose (TB). Além disso, os indicadores de qualidade do atendimento aos pacientes com TB são piores nos negros do que nos brancos. Objetivo: Avaliar a associação entre a raça/cor das pessoas com TB e a realização de testagem para HIV e cultura de escarro no Brasil, considerando níveis de agregação por regiões, Unidades Federadas, municípios e serviços de atendimento. Desenho do estudo: Estudo transversal dos casos novos de TB notificados em 2015 no Brasil. Métodos: As associações entre a raça/cor dos pacientes com TB (agrupados em negros e não negros) e a testagem para o HIV e cultura de micobactéria foram avaliadas usando modelos de regressão logística. Utilizamos também modelos de regressão multinível para examinar as associações considerando diferentes níveis de agrupamento geopolíticos (região, estado e município). Além disso, também foi realizada a análise pareada por serviço de saúde utilizando regressão logística condicional. Em todos os modelos, características individuais foram incluídas como covariáveis ​​de controle. Resultados: Comparados às não negras, as pessoas negras apresentaram chances significativamente mais baixas de terem realizado o testagem de HIV (odds ratio [OR]: 0,72; intervalo de confiança [IC] de 95%: 0,69 - 0,75) e cultura de micobactéria (OR: 0,74; IC95%: 0,71 - 0,77). No entanto, as associações negativas entre a raça/cor negra e a realização dos testes desapareceram quando foram considerados os níveis de agrupamento geopolítico ou quando foi realizada a análise pareada por serviço de saúde. Discussão: Pessoas negras com TB apresentaram menor probabilidade de realização do teste de HIV e cultura de micobactérias do que pessoas não negras com TB. No entanto, essas associações parecem ser macro-determinadas pela co-distribuição geográfica dos grupos raciais e da provisão dos testes diagnósticos. Ou seja, as áreas com menor acesso aos exames foram as que apresentaram maior percentual de população negra. Conclusão: Os resultados expressam iniquidades na distribuição de serviços entre regiões com composições raciais diferentes, as quais afetam negativamente a população negra. Os achados dão subsídio para a formulação de políticas públicas com foco na mitigação dos desequilíbrios regionais, como estratégia para promover a equidade de acesso aos cuidados em saúde.



Palavras-chaves:  Iniquidade em Saúde, Raça e Saúde, Tuberculose