DOENÇA DE WEIL E COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA, UMA ASSOCIAÇÃO INSÓLITA EM RELATO |
A Doença de Weil traduz a expressão clínica mais grave da Leptospirose, e manifesta não apenas sintomas infecciosos inespecíficos, mas um quadro clássico de icterícia, associado a fenômenos hemorrágicos, disfunções renais e pulmonares. Em raros casos, o tecido sanguíneo acometido desenvolve Coagulação Intravascular Disseminada (CID), que dificulta sobremaneira o prognóstico da doença. O presente estudo relata A.C.P.R., parda, 23 anos, do lar, natural de Sumé-PB, admitida em 19/08/16 no Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) com queixas de dor abdominal difusa, em queimação, êmese e oligúria há 1 semana. Antecedentes incluem banhos em açudes na região, e acesso a água potável, saneamento básico e coleta de lixo. Ao exame físico geral: estado geral ruim, consciente, desorientada, hipocorada (2/4+), ictérica (3/4+), desidratada e febril (38,2°C). Das alterações no aparelho respiratório, têm-se taquipneia (FR: 24 ipm) e murmúrios vesiculares diminuídos em base de hemitórax esquerdo. Ao exame abdominal: globoso, com ruídos hidroaéreos diminuídos, doloroso à palpação superficial e profunda (sem resposta à descompressão brusca), e fígado a 2cm do rebordo costal. O hemograma realizado no mesmo dia evidenciou anemia microcítica grave, leucocitose elevada com desvio à esquerda, e achados de icterícia colestática importante (relevância clara da fração direta), provável dano hepático (perda proteica moderada e uremia elevada), insuficiência renal aguda e distúrbio eletrolítico razoável (hipercreatininemia e hipopotassemia). A suspeita de uma coagulopatia adquirida também foi levantada, com resultados de TP e TTPA prolongados, em associação à trombocitopenia grave e à presença de esquizócitos e macroplaquetas. A Gasometria arterial 24h após admissão flagrou alcalose respiratória compensada. Durante internação, as sorologias foram negativas para HIV 1 e 2, Toxoplasmose e Dengue; e positiva para Leptospirose (IgM). O tratamento de início abordou esquema empírico de antibióticos, hidratação endovenosa e transfusões de hemácias e plasma, mas sem resposta satisfatória, o que resultou em transferência à UTI 4 dias depois – com terapia adicional de hemodiálise e suporte ventilatório invasivo. 20 dias seguintes, a paciente vem a óbito por falência múltipla de órgãos, com diagnóstico comprovado de Leptospirose e indicativo de coagulopatia adquirida – CID (com escore ISTH de 4-5 pontos). Palavras-chave: Coagulação Intravascular Disseminada; Doença de Weil; Leptospirose. |