ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE PORTADORES DE DOENÇA DE CHAGAS COM E SEM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ATENDIDOS EM AMBULATÓRIO DE REFERÊNCIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO |
Introdução: A doença de Chagas (DC) constitui-se em fator de risco independente para acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) o qual é uma das formas mais graves de tromboembolismo nessa afecção. O manejo e a prevenção desses casos são baseados em informações incompletas ou extrapolações do conhecimento sobre outras etiologias. A ocorrência de AVC sem acometimento cardíaco também tem sido documentada. Objetivo: Verificar a associação entre parâmetros clínicos/laboratoriais entre portadores de doença de Chagas com (DCAVC) e sem AVC (DC). Método: Estudo retrospectivo que incluiu 678 pacientes atendidos em um ambulatório público de DC e Insuficiência Cardíaca entre os anos de 2016 a 2018. Foram analisadas variáveis clínicas, laboratoriais, eletrocardiográficas e ecocardiográficas. Foi definido como significante p <0.05. Resultados e discussão: 75 pacientes (11%) tiveram AVC, sendo a maioria do sexo feminino (68%) com mediana de idade igual a 66 anos (28-85). Apresentaram significante diferença entre os grupos, com predomínio dos agravos no grupo DCAVC: doença arterial coronariana ( p: 0.004), insuficiência cardíaca ( p: 0.004), alteração segmentar ( p: 0.021), disfunção ( p: 0.017) e dilatação do ventrículo direito ( p: 0.032), fração de ejeção do ventrículo esquerdo (VE) (52.4 ± 17; p: 0.006), diâmetro diastólico do VE (55.5 ± 9.5; p: 0.019), número de extrassístoles (772 ± 1776; p:0.019) e estágio da DC (A: 9.3%; B1/B2: 46.6%; C: 42.6%; p: 0.002) conforme classificação da diretriz Latino-Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. Estudos recentes sugerem que a associação entre infecções crônicas e AVC pode ser consequência da ativação das cascatas inflamatórias e de coagulação, bem como da disfunção endotelial e aterogênese. O presente trabalho corrobora com essa hipótese a medida que outros preditores conhecidos para AVC (fibrilação atrial, taquicardia ventricular sustentada ou não, dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e tabagismo/etilismo atual ou prévio) não tiveram significância. Conclusão: Segundo a análise, pacientes com DCAVC têm um acometimento cardíaco mais grave. Uma acurada caracterização desse grupo pode contribuir para reduzir o número de casos com etiologia indeterminada o que é essencial para correta prevenção secundária. |