CARACTERIZAÇÃO HEMATOLÓGICA NOS ACIDENTES BOTRÓPICOS ATENDIDOS EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA EM DOENÇAS TROPICAIS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA |
A serpente Bothrops atrox é responsável pela maioria dos acidentes ofídicos na Amazônia Brasileira. As vítimas de acidentes botrópicos podem apresentar manifestações clínicas locais (edema, dor e equimose) e sistêmicas (alterações da coagulação e sangramentos). O veneno de serpentes Bothrops pode variar inter e intraespecificamente, o que poderia repercutir na gravidade das manifestações clínicas dos envenenamentos. Além disso, há uma limitada informação a respeito das alterações hematológicas em vítimas de acidentes botrópicos ocorridos na Amazônia brasileira. O objetivo deste trabalho é descrever as alterações hematológicas em vítimas de acidente botrópico antes da administração do antiveneno. Para isso, realizou-se um estudo transversal em pacientes com diagnóstico clínico-epidemiológico de acidente botrópico (n=100) atendidos na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Manaus/AM, entre janeiro/2016 e dezembro/2017, com idade superior a 12 anos e sem uso de antiveneno. Os dados clínicos e epidemiológicos foram coletados em um formulário padronizado. O sangue venoso foi adicionado em tubos plásticos com anticoagulante Na 2 -EDTA 0,01% e antiveneno botrópico-laquético 2%, na concentração final, para determinar o hematócrito, hemoglobina, número de eritrócitos, leucócitos e plaquetas, volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM), concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e volume plaquetário médio (VPM). Os acidentes ocorreram principalmente no sexo masculino (88%), com média de idade de 40 anos, o tempo para assistência médica foi menor que três horas (46%), a região anatômica mais acometida foi o pé/dedo do pé (63%), os acidentes foram classificados em sua maioria como moderados (53%), seguidos de leve (41%). Os valores dos hemogramas foram (média ± D.P.): leucócitos (11,5 ± 3,5 x10³/µL), eritrócitos (5,1 ± 0,4 x10⁶/µl), hemoglobina (14,1 ± 1,2 g/dL), hematócrito (44,6 ± 3,6%), VCM (88,2 ± 3,0 fl), HCM (27,8 ± 1,8 pg), CHCM (32,3 ± 1,8 g/dL) e VPM (9,6 ± 0,8 fl). A contagem média de plaquetas ficou dentro dos valores de referência (215,2 ± 58,2 x10³/µL), porém 10 pacientes apresentaram plaquetopenia, frequência cerca de 5 vezes inferior a observada em acidentes com B. jararaca . Os resultados foram semelhantes aos encontrados em estudos realizados em Belém, PA. Este estudo sugere que a variação na composição do veneno entre espécies diferentes pode repercutir na clínica dos acidentes botrópicos. |