ANÁLISE DOS ÓBITOS POR LEISHMANIOSE VISCERAL EM HOSPITAL DE REFERÊNCIA DE NATAL-RN |
A Leishmaniose Visceral (LV) é uma zoonose endêmica em diversas áreas tropicais. Sua letalidade no Brasil encontra-se em torno de 7% e seu predomínio está na região Nordeste e no estado de Minas Gerais. Apresenta clínica variada e a presença de complicações (infecções e hemorragias) favorecem o aumento da letalidade. O presente estudo objetivou identificar as características clínicas e laboratoriais de 23 pacientes que foram a óbito no Hospital Giselda Trigueiro (HGT), no Rio Grande do Norte, entre junho de 2013 e junho de 2018, a partir de análise observacional retrospectiva dos casos de LV admitidos no serviço no período citado. As variáveis estudadas incluíram sexo, idade, procedência, manifestações clínicas, alterações laboratoriais, tratamento realizado, intercorrências durante a internação e desfecho desfavorável por causas sépticas. Observou-se predomínio do sexo masculino (69,5% dos casos), 65,2% dos casos estiveram entre 20 e 49 anos e não houve óbitos abaixo de 20 anos. A zona urbana predominou na amostra (78,26%), refletindo o processo de expansão geográfica da LV. Entre os sinais e sintomas, febre predominou em 95,6% dos casos, seguida da palidez (91,3%) e perda ponderal (86,9%). Os fenômenos hemorrágicos foram registrados em 56,5% da amostra. Nos parâmetros laboratoriais, 16,6% dos pacientes manifestaram leucopenia, houve plaquetopenia severa em 55,5% dos casos e anemia em 61,1%. 35,2% dos pacientes apresentaram lesão renal, 27,7% apresentaram lesão hepática, aumento das bilirrubinas totais foi registrado em 66,6% e a hipoalbuminemia foi constatada em 82,3% dos casos. Dos pacientes que iniciaram o tratamento, todos o fizeram com Anfotericina B lipossomal, e apenas um paciente (4,34%) apresentou efeito adverso à terapia. Chama atenção o fato de 95,6% dos óbitos terem relação com infecção bacteriana secundária: 22 dos 23 pacientes estudados apresentaram como causa associada ao óbito a evidência de sepse. Na patogênese da LV, evidencia-se a possibilidade de translocação da microbiota entérica como foco de infecção sistêmica. A incidência da sepse no serviço estudado encontra-se muito além da prevista em estudos semelhantes e tal constatação é de importância ímpar para o manejo dos doentes. Sugere-se que o prognóstico da LV pode sofrer influência direta da coinfecção bacteriana e o tratamento preemptivo deve ser considerado no intuito de diminuir a mortalidade. |