ANÁLISE DOS ÓBITOS POR LEISHMANIOSE VISCERAL EM HOSPITAL DE REFERÊNCIA DE NATAL-RN
LUCAS DE SOUZA BACELLAR1, IGOR THIAGO QUEIROZ1, RENATA GUERREIRO MAIA1, EVANNE PAULA DOMINGOS GALVÃO1, FRANCISCO GOMES SOBRAL NETO1, JALINE DE MELO PESSOA CAVALCANTE1, LUCAS MAIA BESSA1, DANDARA MARIA MARINHO1
1. UNP - Universidade Potiguar, 2. HGT - Hospital Giselda Trigueiro
BACELLAR1804@GMAIL.COM

A Leishmaniose Visceral (LV) é uma zoonose endêmica em diversas áreas tropicais. Sua letalidade no Brasil encontra-se em torno de 7% e seu predomínio está na região Nordeste e no estado de Minas Gerais. Apresenta clínica variada e a presença de complicações (infecções e hemorragias) favorecem o aumento da letalidade. O presente estudo objetivou identificar as características clínicas e laboratoriais de 23 pacientes que foram a óbito no Hospital Giselda Trigueiro (HGT), no Rio Grande do Norte, entre junho de 2013 e junho de 2018, a partir de análise observacional retrospectiva dos casos de LV admitidos no serviço no período citado. As variáveis estudadas incluíram sexo, idade, procedência, manifestações clínicas, alterações laboratoriais, tratamento realizado, intercorrências durante a internação e desfecho desfavorável por causas sépticas. Observou-se predomínio do sexo masculino (69,5% dos casos), 65,2% dos casos estiveram entre 20 e 49 anos e não houve óbitos abaixo de 20 anos. A zona urbana predominou na amostra (78,26%), refletindo o processo de expansão geográfica da LV. Entre os sinais e sintomas, febre predominou em 95,6% dos casos, seguida da palidez (91,3%) e perda ponderal (86,9%). Os fenômenos hemorrágicos foram registrados em 56,5% da amostra. Nos parâmetros laboratoriais, 16,6% dos pacientes manifestaram leucopenia, houve plaquetopenia severa em 55,5% dos casos e anemia em 61,1%. 35,2% dos pacientes apresentaram lesão renal, 27,7% apresentaram lesão hepática, aumento das bilirrubinas totais foi registrado em 66,6% e a hipoalbuminemia foi constatada em 82,3% dos casos. Dos pacientes que iniciaram o tratamento, todos o fizeram com Anfotericina B lipossomal, e apenas um paciente (4,34%) apresentou efeito adverso à terapia. Chama atenção o fato de 95,6% dos óbitos terem relação com infecção bacteriana secundária: 22 dos 23 pacientes estudados apresentaram como causa associada ao óbito a evidência de sepse. Na patogênese da LV, evidencia-se a possibilidade de translocação da microbiota entérica como foco de infecção sistêmica. A incidência da sepse no serviço estudado encontra-se muito além da prevista em estudos semelhantes e tal constatação é de importância ímpar para o manejo dos doentes. Sugere-se que o prognóstico da LV pode sofrer influência direta da coinfecção bacteriana e o tratamento preemptivo deve ser considerado no intuito de diminuir a mortalidade.



Palavras-chaves:  Leishmaniose, Epidemiologia, Complicações, Sepse, Mortalidade