SÉRIE DE CASOS DE PACIENTES COINFECTADOS COM HIV/LEISHMANIA NUM AMBULATÓRIO DE REFERÊNCIA PARA LEISHMANIOSES, CUIABÁ, MT |
Com o fenômeno de expansão territorial da leishmaniose tegumentar e urbanização da leishmaniose visceral no Brasil e globalização da infecção pelo HIV, incluindo presença em zonas rurais, a intersecção destas doenças é fenômeno cada vez mais frequente. O HIV pode ser um facilitador para a disseminação da leishmaniose que pode por sua vez mudar a progressão da doença pelo HIV, entretanto não existe quadro clínico específico da coinfecção e a resposta terapêutica na leishmaniose está diretamente relacionada ao estado imunológico do indivíduo. Relatam-se 37 casos da coinfecção HIV/ Leishmania , todos diagnosticados e acompanhados no ambulatório de referência do HUJM, através da revisão de prontuários. Os dados analisados são de pacientes atendidos de 1993 a 2018. Eram do sexo masculino 91,9% (34), diagnosticados dos 19 aos 65 anos (média= 34,3 anos de idade), com forma cutânea em 29,7% dos casos (11), mucosa em 24,3% (9), cutâneo-mucosa em 27% (10), cutânea disseminada em 10,8% (4), cutâneo-mucosa disseminada em 5,4% (2) e visceral em 2,7% (1). Em 62,1% (23) o diagnóstico de HIV foi realizado após o diagnóstico da leishmaniose. A análise do estado imunológico por avaliação de carga viral e células CD4 demonstrou que 67,5% (25) dos pacientes tinha carga viral detectável e em 13,1% (5) estava indetectável; 17,9% (7) com não realizaram exames no período. Sobre os linfócitos CD4, 70,3% (26) mantinham valores menores que 350 células contra 18,9% (7) com valores acima de 350; 10,8% (4) não haviam realizado exames no período. Como 1º tratamento foram utilizados Glucantime® em 75,7% (28) e anfotericina B em 24,3% (9). Em 40,5% (15) foi realizado um único tratamento, em 51,4% (19) 1 ou 2 retratamentos e em 8,1% (3) houve perda de seguimento por abandono. No retratamento utilizou-se a anfotericina B em 32,4% (12), pentamidina em 18,9% (7) e Glucantime® em 2,7% (1). Todos os pacientes tiveram a terapia antirretroviral instituída de imediato ao diagnóstico. No grupo de pacientes aqui relatados houve predomínio de casos do sexo masculino, com baixa contagem de CD4 e carga viral elevada. Observa-se elevada frequência de formas disseminadas. É provável que a condição de imunossupressão tenha contribuído diretamente para um pior prognóstico da leishmaniose e indicação de múltiplos esquemas de tratamento. |