AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE CARDIOPATIAS EM CRIANÇAS COM INFECÇÃO CONGÊNITA PELO ZIKA – UMA ANÁLISE PRELIMINAR.
JOSÉ ALFREDO DE SOUSA MOREIRA 1,2, MONIQUE BARRETO SANTANA1,2, ANDREA LORENZO1,2, CRISTIANE DA CRUZ LAMAS1,2
1. INC - Instituto Nacional de Cardiologia, 2. INI/FIOCRUZ - Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundacao Oswaldo Cruz
JOSE.MOREIRA@INI.FIOCRUZ.BR

Introdução : A infecção por Zika vírus (ZIKV) durante o período gestacional está associada a uma síndrome congênita, que cursa com malformações do sistema nervoso central, notadamente a microcefalia. A relação entre ZIKV e o acometimento cardíaco não está bem esclarecida. Assim, nos propusémos a avaliar a prevalência de cardiopatias em crianças com infecção congênita pelo ZIKV. Método: Estudo observacional conduzido numa unidade de referência para doenças cardíacas iniciado em março de 2018. Todos os lactentes com critérios clínicos-epidemiológicos com provável síndrome congênita relacionada ao ZIKV (microcefalia e história materna de rash na gestação, durante o período da epidemia por ZIKV) eram convidados a participar. Excluímos lactentes com microcefalia explicada por outras etiologias infecciosas e aqueles cujas mães se recusassem a participar. Avaliação cardiovascular foi realizada através do exame físico, ecocardiografia transtorácica (bidimensional) e eletrocardiograma de 12 derivações (ECG). Doença cardíaca congênita foi definida como alteração persistente da estrutura cardíaca. Além da avaliação cardiovascular dos lactentes, aplicamos um questionário sócio demográfico as mães dos lactentes. Resultados: Vinte e uma crianças com a idade média de 19.7 meses foram recrutadas. A infecção por ZIKV foi confirmada laboratorialmente em 3 (14.2%) lactentes. Histórico de rash no primeiro e segundo trimestre gestacional foi relatado em 71% e 29%, respectivamente. A idade gestacional média ao nascimento foi de 39 (34-42) semanas; 81% teve o parto por cesariana; e o perímetro cefálico médio ao nascimento foi de 31.6 (34-42) cm. As sorologias para HIV, sífilis, e rubéola foram negativas no pré-natal em todas as mães entrevistadas. A idade média das mães foi de 24.4 (20-31) anos; todas residentes em área urbana, e 38% relatou uso de algum tipo de proteção contra a picada do mosquito durante a gestação. O exame ecocardiográfico foi realizado em 16 (76%) lactentes, e destes, dois (12.5%) apresentaram alterações cardíacas (1 com drenagem anômala total das veias pulmonares e persistência do canal arterial, e outro com insuficiência tricúspide). O ECG foi normal em todos avaliados. Conclusão : A prevalência de cardiopatia em lactentes com a síndrome da ZIKV congênita foi mais elevada do que o esperado para a população geral. Se estes achados se confirmarem em outros estudos, o rastreio cardiovascular de lactentes infetados com ZIKV poderá ser recomendado.



Palavras-chaves:  Doença cardíaca , Gravidez, Zika