TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE MUCOSA: A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA NO BRASIL |
Antimoniais pentavalentes (Sb v ) são os fármacos mais comumente usados no tratamento da leishmaniose mucosa (LM), apesar de sua alta toxicidade e moderada eficácia. A evidência acumulada com o uso de formulações lipídicas da anfotericina B vem aumentando nos últimos anos, mas ainda é escassa, embora bastante promissora. Os azólicos também foram identificados como opção de tratamento para Leishmania major e L. mexicana , mas faltam estudos conclusivos sobre sua aplicabilidade na LM. O objetivo deste estudo é relatar a taxa de cura observada com diferentes opções disponíveis para o tratamento da LM em centro de referência em Minas Gerais. É um estudo retrospectivo, baseado na revisão de prontuários clínicos de pacientes atendidos no Centro de Referência em Leishmanioses do Instituto René Rachou (IRR), FIOCRUZ/Minas. Foram avaliados 35 pacientes tratados entre 2009-2015: 24 homens e 11 mulheres. A resposta ao tratamento foi avaliada de acordo com o exame otorrinolaringológico em três momentos diferentes: 90 ± 15 dias, seis meses e um ano a partir do primeiro dia de tratamento. O protocolo do estudo foi aprovado pelos comitês de ética em pesquisa do IRR (parecer 1.578.874) e do Hospital Eduardo de Menezes, Fundação Hospitalar de MG (parecer 2.001.556). A mucosa nasal foi afetada em 33 de 35 pacientes (94%). A mediana da idade dos pacientes foi de 63 anos e a mediana da duração da doença foi de 24 (IQ25-75% 7 a 48) meses. Metade dos pacientes com LM (17) recebeu Sb v por via parenteral, enquanto a outra metade teve uma ou mais contraindicações ou teve efeitos colaterais graves com os derivados de antimônio, exigindo o uso de terapia alternativa: nove foram tratados com anfotericina B lipossomal (L-anfo) e outros nove com fluconazol. Os pacientes tratados com L-anfo receberam a mediana de dose acumulada de 2550mg. O tempo médio de uso do fluconazol foi de 120 dias e a dose diária variou de 450 a 900mg. Na consulta de acompanhamento de 3 meses, a taxa de cura foi de 35% (6/17), 67% (6/9) e 22% (2/9) para os grupos de terapia com Sb v , L-anfo e fluconazol, respectivamente. No acompanhamento de 6 meses, as taxas de cura para Sb v , L-anfo e fluconazol foram 71% (12/17), 78% (7/9) e 33% (3/9). Na consulta de acompanhamento de um ano, as taxas de cura final foram de 82%, 90% e 22% para os grupos Sb v , L-anfo e fluconazol. Há uma escassez de alternativas eficazes para o tratamento de LM e, com base em nossas observações, o fluconazol não é uma opção válida de tratamento. |