TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE MUCOSA: A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA NO BRASIL
MARIANA JUNQUEIRA PEDRAS 1, JANAÍNA DE PINA CARVALHO1, ROSIANA ESTÉFANE DA SILVA1, DARIO BROCK RAMALHO1, MARIA CAMILO RIBEIRO DE SENNA1, HUGO SILVA ASSIS MOREIRA1, LORENA ZAINE MATOS MARTINHO1, ANA RABELLO1, GLÁUCIA FERNANDES COTA1
1. IRR - Instituto René Rachou, 2. HEM - Hospital Eduardo de Menezes
mjpedras@minas.fiocruz.br

Antimoniais pentavalentes (Sb v ) são os fármacos mais comumente usados no tratamento da leishmaniose mucosa (LM), apesar de sua alta toxicidade e moderada eficácia. A evidência acumulada com o uso de formulações lipídicas da anfotericina B vem aumentando nos últimos anos, mas ainda é escassa, embora bastante promissora. Os azólicos também foram identificados como opção de tratamento para Leishmania major  e  L. mexicana , mas faltam estudos conclusivos sobre sua aplicabilidade na LM. O objetivo deste estudo é relatar a taxa de cura observada com diferentes opções disponíveis para o tratamento da LM em centro de referência em Minas Gerais. É um estudo retrospectivo, baseado na revisão de prontuários clínicos de pacientes atendidos no Centro de Referência em Leishmanioses do Instituto René Rachou (IRR), FIOCRUZ/Minas. Foram avaliados 35 pacientes tratados entre 2009-2015: 24 homens e 11 mulheres. A resposta ao tratamento foi avaliada de acordo com o exame otorrinolaringológico em três momentos diferentes: 90 ± 15 dias, seis meses e um ano a partir do primeiro dia de tratamento. O protocolo do estudo foi aprovado pelos comitês de ética em pesquisa do IRR (parecer 1.578.874) e do Hospital Eduardo de Menezes, Fundação Hospitalar de MG (parecer 2.001.556). A mucosa nasal foi afetada em 33 de 35 pacientes (94%). A mediana da idade dos pacientes foi de 63 anos e a mediana da duração da doença foi de 24 (IQ25-75% 7 a 48) meses. Metade dos pacientes com LM (17) recebeu Sb v por via parenteral, enquanto a outra metade teve uma ou mais contraindicações ou teve efeitos colaterais graves com os derivados de antimônio, exigindo o uso de terapia alternativa: nove foram tratados com anfotericina B lipossomal (L-anfo) e outros nove com fluconazol. Os pacientes tratados com L-anfo receberam a mediana de dose acumulada de 2550mg. O tempo médio de uso do fluconazol foi de 120 dias e a dose diária variou de 450 a 900mg. Na consulta de acompanhamento de 3 meses, a taxa de cura foi de 35% (6/17), 67% (6/9) e 22% (2/9) para os grupos de terapia com Sb v , L-anfo e fluconazol, respectivamente. No acompanhamento de 6 meses, as taxas de cura para Sb v , L-anfo e fluconazol foram 71% (12/17), 78% (7/9) e 33% (3/9). Na consulta de acompanhamento de um ano, as taxas de cura final foram de 82%, 90% e 22% para os grupos Sb v , L-anfo e fluconazol. Há uma escassez de alternativas eficazes para o tratamento de LM e, com base em nossas observações, o fluconazol não é uma opção válida de tratamento.



Palavras-chaves:  Fluconazol, Leishmaniose Mucosa, Tratamento