DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO INFECCIOSO TARDIO DE LINFEDEMA CRÔNICO ULCERADO: IMPERÍCIA OU NEGLIGÊNCIA?
MARIANA NASCIMENTO PONA 1, LETÍCIA ROSSETTO DA SILVA CAVALCANTE1, CLAYTON DE OLIVEIRA BELONI1, JOSÉ CABRAL LOPES1, MARCIA HUEB1
1. HUJM - Hospital Universitário Júlio Muller
MARIANANPONA@GMAIL.COM

As moléstias infecciosas podem ser responsáveis pelo agravamento de condições pré-existentes como insuficiência venosa e linfedema crônico. O diagnóstico dessas condições não afasta possibilidade da coexistência de outro agravo como filariose linfática, erisipelas de repetição e, em casos refratários, outros diagnósticos como hanseníase. Em áreas endêmicas de Mycobacterium leprae (MH) é imprescindível o exame dermatoneurológico. Aqui relata-se um caso de hanseníase com múltiplas sequelas, em parte decorrente da falta de diagnóstico. Revisão de prontuário, paciente de 54 anos, agricultor, com extenso linfedema em membros inferiores e lesões ulceradas dolorosas em pés há 4 anos, evoluindo com aumento progressivo da lesão e saída de secreção hialino-purulenta. Encaminhado em abril deste ao nosso serviço para investigação. Relatava uso de sulfametoxazol trimetoprim e itraconazol por 3 meses, por diagnóstico empírico de Paracoccidioidomicose em outro serviço, sem melhora. Trouxe baciloscopia negativa para MH de fevereiro de 2018. Internado para tratar infecção secundária e investigar. Ao exame físico: madarose, infiltração frontal, perfuração de septo e desabamento nasal, espessamento de nervos: auricular, ulnar e radial-cutâneo bilaterais; além de infiltração do pavilhão auricular, mal perfurante plantar, reabsorção óssea de pododáctilos, pernas em “cascas de laranja” com úlceras e xerodermia. Feita antibioticoterapia empírica, ultrassonografia de membros que apresentou veias varicosas e insuficiência das safenas magna. Nova baciloscopia para MH com índice baciloscópico 5 e anatomopatológico da lesão descrevendo processo inflamatório crônico, reparativo, inespecífico. Início de tratamento para MH no mesmo período, hoje no 3º mês de uma proposta de 12 meses, com melhora inicial. Conclui-se que o paciente, procedente de Mato Grosso, estado que lidera o número de casos de Hanseníase no Brasil teve diagnóstico provavelmente adiado por 4 anos, considerando-se que ao menos em parte os sintomas iniciais já eram da hanseníase. O atraso contribuiu muito para situação atual de sequelas e incapacidade grave, levando à discussão do quanto é falha a atenção básica em elaborar suspeitas diagnósticas de doenças de alta prevalência e impacto clínico, como a hanseníase. Profissionais da saúde carecem de treinamento específico para reconhecer a doença, especialmente em fase inicial, pois a baciloscopia tem baixa sensibilidade e o resultado negativo não afasta o diagnóstico.



Palavras-chaves:  Exame Clínico, Hanseníase, Linfedema