DOENÇA DE CREUTZFELDT-JAKOB: PERDA AUDITIVA BILATERAL COMO SINTOMA INICIAL
MARIA EDUARDA BIZARRO DA ROCHA DO NASCIMENTO 1, CRISTIANO SOBRAL DE CARVALHO1, JOÃO VICTOR DE ALMEIDA CASSIMIRO1, NATHALIE H. S. CANEDO1, LEILA MARIA CARDÃO CHIMELLI1, PAULO ROBERTO DE BRITO MARQUES1, FABÍOLA LYS DE MEDEIROS1, EDUARDO SOUSA DE MELO1
1. UPE - Universidade de Pernambuco, 5. HUOC/UPE - Hospital Universitário Oswaldo Cruz/Universidade de Pernambuco, 6. IEC/UFRJ - Instituto do Cérebro Paulo Niemeyer/Universidade Federal do Rio de Janeiro
meduardabizarro@gmail.com

 

INTRODUÇÃO: A doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é a doença priônica humana, com inicidência anual estimada em 1 caso por milhão de habitantes ao ano. Cerca de um terço dos casos têm manifestações atípicas como ataxia de marcha, afasia ou perda visual (forma Heidenhain), no entanto, é raro a perda auditiva bilateral como pródromo de DCJ. OBJETIVO: Relatar um início atípico de DCJ. MÉTODO: Relato de caso. RESULTADO: Homem, 61anos. Março de 2017 iniciou quadro de perda auditiva progressiva associado a zumbidos. Após 2 meses, foi admitido no hospital com perda completa da audição, alteração na fala e marcha. Exame neurológico: consciente e orientado, nistagmo horizontal sem alterações visuais, anacusia bilateral e desvio dos índices para direita, síndromes piramidal e cerebelar, poliminimioclonias e sinais de frontalização. O eletroencefalograma (EEG) evidenciou alentecimento difuso e assimétrico da atividade de base. Ressonância magnética de crânio (RM), demonstrou hipersinal no T2 em núcleos da base e restrição a difusão cortical. O líquido cefalorraquidiano (LCR): células 3/mm (linfócitos 90%; monócitos 10%.); proteínas 76 mg/dL; glicose 76 mg/dlL; Tau proteína 440ng/L, proteína 14-3-3 ausente. O potencial evocado auditivo constatou disfunção bilateral dos nervos vestibulococleares. Após 3 semanas internado, apresentou mutismo acinético com piora cognitiva rápida. Novo EEG evidenciou atividade periódica trifásica (0.8-1.3 Hz). Evoluiu com óbito após 8 semanas da admissão. A imuno-histoquímica do anatomopatológico demonstrou a presença da proteína priônica patológica (PrPsc). DISCUSSÃO: DCJ é a principal causa de demência rapidamente progressiva. Outras causas importantes devem fazer parte do diagnóstico diferencial das encefalopatias rapidamente progressivas com envolvimento auditivo, sendo as principais: Doença de Susac, doença de Whiple, HIV, sífilis, sarcoidose, vasculites do SNC, doenças linfoproliferativas, encefalites paraneoplásica e autoimune. Os sinais na RM cerebral (hipersinal no  caudado, putâmen , pulvinar do tálamo e a restrição a difusão cortical) são sinais característicos. A presença da proteína 14-3-3 no LCR e da proteína PrPsc na anatomopatologia, junto ao EEG com atividade periódica, diagnostica a DCJ. CONCLUSÃO :A DCJ deve ser sempre considerada em caso de demência rapidamente progressiva, principalmente quando associados a mioclonias e eventualmente, perda auditiva.



Palavras-chaves:  Demência, Perda auditiva, Proteína priônica