Estudo do tropismo do vírus dengue tipo 4 em modelo murino BALB/c: infecção experimental, análises morfológicas e de viremia |
Desde sua introdução no território brasileiro, no ano de 1981, o vírus dengue 4 (DENV-4) permaneceu ausente do cenário epidemiológico nacional por quase 25 anos, até sua reintrodução em 2010. Esse evento marcou a cocirculação dos quatro sorotipos do vírus no país e, consequentemente, o estabelecimento de um cenário hiperendêmico, com a ocorrência cada vez mais frequente de infecções secundárias. Estudos acerca da patogênese da dengue são dificultados, principalmente, pela inexistência de modelos animais experimentais que reproduzam adequadamente a infecção pelo vírus como observada em casos humanos. Alguns modelos utilizados atualmente fazem uso de animais imunodeficientes, vias de inoculação invasivas e inóculos virais neuroadaptados, condições consideradas desfavoráveis e distantes das naturais. Devido a isso, o estabelecimento de um modelo animal adequado que reproduza a infecção por DENV de modo similar ao observado em casos humanos é um marco essencial a ser alcançado para possibilitar a compreensão da patogênese da doença, assim como para o desenvolvimento de fármacos e vacinas eficazes. Para tal, é necessária a elucidação dos efeitos histopatológicos, ultraestruturais e moleculares de cada um dos sorotipos sobre o modelo proposto, individualmente e simultaneamente, assim como a manutenção da fidedignidade da via de inoculação do mosquito, da virulência das cepas virais e da imunocompetência do animal. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo analisar o potencial tropismo do DENV-4 por fígado, pulmão e coração de camundongos da linhagem BALB/c e avaliar as alterações morfológicas e ultraestruturais geradas pelo vírus nestes órgãos. Para tal, camundongos da linhagem imunocompetente BALB/c foram inoculados por via intravenosa com doses não neuroadaptadas de DENV-4 isolado de caso humano, e amostras de tecido provenientes do fígado, pulmão e coração dos animais foram submetidas à análise histopatológica e ultraestrutural. Adicionalmente, amostras destes mesmos órgãos, assim como amostras de saliva, foram submetidas à técnica molecular (RT-PCR em tempo real), de modo a quantificar a replicação viral e avaliar seu potencial tropismo por estes tecidos. Alterações observadas nos órgãos estudados apresentaram perfil semelhante ao caracterizado em casos humanos de dengue, e a detecção do genoma viral nos tecidos analisados e em amostras de saliva revelou a susceptibilidade do modelo ao sorotipo. |