PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI, CEARÁ, BRASIL DE 2010 A 2017 |
A Leishmaniose Visceral (LV), conhecida como Calazar, é uma síndrome clínica com apresentações variáveis, de assintomáticas até quadro crônico com febre, anemia, hepatoesplenomegalia, além de tosse seca e leucopenia. A doença é fatal se não tratada de imediato após a sintomatologia inicial e é considerada endêmica na Região Metropolitana do Cariri (RMC), formada pelos municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. O trabalho em questão visa traçar o perfil epidemiológico de LV em humanos nos municípios da RMC. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo levantamento de dados, cuja coleta ocorreu na base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), referentes a morbimortalidade, faixa etária, etnia, sexo e localidade de ocorrência, no período de 2010 a 2017. No período estudado, foram notificados 235 casos nos três municípios, sendo que a maior incidência de LV ocorreu em 2015 com 39 casos, dos quais 20 (51,28%) eram de Crato. Barbalha apresentou um pico com 14 (18,66%) casos em 2014 e Juazeiro do Norte em 2010, com 16 (17,97%) casos, que também exibiu a maior proporção nessa faixa temporal com 89 casos (37,87%), seguido por Barbalha 75 (31,91%) e Crato 71 (30,21%). Observou-se que na RMC ocorreram 21 (8,93%) óbitos por LV e que Crato apresentou o maior número deles, com 8 óbitos (38,09%). Globalmente, houve predominância do sexo masculino, com 155 casos (65,95%) e da faixa etária de 1-4 anos. Todavia, em Crato, os mais acometidos possuíam entre 20 e 39 anos, com 17 casos (23,94%), sendo esta a segunda faixa prevalente nos outros municípios. Ademais,188 dos indivíduos com LV (80%) viviam na zona urbana. O aumento do número de casos de LV pode ser explicado por fatores ambientais, como o desmatamento, e pelos processos migratórios, fatores esses presentes na RMC. Uma urbanização desorganizada, como nas periferias, favorece também a expansão da doença. A razão da maior susceptibilidade das crianças é explicada pelo estado de relativa imaturidade imunológica celular e pela maior exposição. A maior exposição também é a possível causa do predomínio no sexo masculino. O estudo permitiu observar a LV como uma doença infecciosa de importância veemente frente ao número de casos, principalmente em pré-escolares, necessitando de maiores investimentos do poder público sob o controle de casos e do combate à subnotificação, atuando na prevenção dessa patologia negligenciada. |