HISTÓRICO SOBRE OS SURTOS DE DOENÇA DE CHAGAS OCORRIDO NO ESTADO DO AMAZONAS |
Na Amazônia brasileira a doença de Chagas (DCA) possui epidemiologia diferente das regiões endêmicas. Não há domiciliação vetorial e a forma de transmissão mais prevalente é a oral. No Amazonas, a partir do primeiro surto da DCA ocorrido em 2004, aumentaram o número de casos notificados, e seis surtos já ocorreram. Este trabalho tem como objetivo relatar aspectos epidemiológicos dos seis surtos ocorridos em diferentes municípios do estado do Amazonas. A Fundação de Medicina Tropical doutor Heitor Vieira Dourado (FMTHVD) juntamente com a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) foram as instituições responsáveis pelas investigações e atendimento dos pacientes. Os seis surtos da DCA, que ocorreram no estado, totalizaram 103 pacientes. O primeiro, em 2004 foi em Tefé (09), o segundo, 2007, em Coari (25), o terceiro, 2010, em Santa Isabel do Rio Negro (17), o quarto, 2011 (12) e o quinto, 2015 (20) ocorreram respectivamente em Carauari e o mais recente, 2017/2018, em Lábrea (20). Em todas as situações foram acometidos mais de um membro de uma mesma família ou de convivência próxima, além de amigos ou vizinhos e tinham em comum o relato da ingestão do suco de açaí. Geograficamente as localidades onde ocorreram os surtos estão concentradas na parte central e sul do estado do Amazonas e ocorreram nos meses de dezembro a junho, período que coincide com a safra de produção do açaí. Observou-se que os surtos ocorreram após reuniões familiares em datas comemorativas, tais como, feriados (semana santa e festas de final de ano). Dentre os relatos, geralmente membros da família e amigos se reúnem e compartilham do mesmo alimento. O intervalo de tempo entre um surto e outro tem sido em média de 3,5 anos. A maioria apresentaram sintomas inespecíficos e a febre foi a mais frequente, em 90,2% dos casos. Em todos surtos, o caso índices foi identificado pelo serviço de malária, quando o paciente realizou a gota espessa. Considerando a dificuldade de acesso aos centros de saúde especializados, a capacitação de microscopistas dos municípios do Amazonas tem sido fundamental no diagnóstico de hemoparasitos, ratificando a importância de pessoal capacitado para a detecção precoce dos casos de DCA na região. |