ABANDONO DE TARV x INFECÇÕES OPORTUNISTAS: CONCOMITÂNCIA DE TUBERCULOSE MILIAR E LEISHMANIOSE MUCOCUTÂNEA EM CENÁRIO DE RESISTÊNCIA VIRAL |
INTRODUÇÃO: A leishmaniose é uma antropozoonose de alta incidência na América do Sul. Estudos apontam que o Brasil está entre os dez países com alta incidência da doença. Em 2015 foram diagnosticados cerca de 20.000 novos casos no Brasil, a maioria nas regiões Norte e Nordeste. A forma mucocutânea ocorre em áreas expostas, frequentemente comprometendo aleta nasal. Por outro lado, a tuberculose (TB) superou recentemente o HIV como principal agente infeccioso no mundo, mas as duas doenças continuam a apresentar um sinergismo que pode ser fatal. RELATO DO CASO: Homem, 32 anos, casado, garçom, natural de Itabaiana/PB e procedente de Cabedelo/PB. Tabagista e alcoolista. Diagnóstico sorológico de infecção pelo HIV em 10/08/2010 (CD 4 544cél/mm 3 e CV 216.052cópias/ml). Antecedente de leishmaniose mucocutânea em 2014, com destruição de aletas nasais. Acompanhamento ambulatorial irregular, com início de 3TC+TDF+EFZ (2014) e abandono após dois meses. Admitido em 07/11/16 com queixas de febre há mais de três meses, associado à lesão ulcerada em palato duro e adenomegalias cervicais bilateral. Duas baciloscopias negativas. PPD não reator. Radiografia de tórax: opacidades intersticiais dispersas pelo parênquima de ambos os pulmões, aspecto micronodular, sugestivo de TB miliar. Biópsia de linfonodo cervical (24/11/16): linfadenite crônica granulomatosa, sugestivo de TB. Iniciados RIZE em 08/11/16, o qual foi suspenso em 17/11/16 por elevação de transaminases e bilirrubinas. Reintroduzido esquema alternativo com Estreptomicina, Etambutol e Ofloxacina em 22/11/16. Realizada biópsia de lesão em palato, revelando estomatite crônica e ausência de malignidade; todavia, sem resposta ao esquema para TB. Reativação de Leishmaniose? Iniciado tratamento com Anfotericina B, com posterior cicatrização da lesão. À internação: CD 4 64cél/mm 3 e CV 273.219cópias/ml, com reintrodução da TARV inicial. Em 18/01/2017 realizou-se nova CV - 462.365cópias/ml, indicando falha viral ao esquema antirretroviral de uso. Realizada genotipagem: múltiplas mutações de resistência. Ajustado TARV para 3TC+TDF+ATZ/r. Em 15/02/17 recebeu alta hospitalar para acompanhamento ambulatorial. CONCLUSÃO: O abandono da TARV piora o cenário clínico, favorecendo as infecções oportunistas em virtude da elevação da carga viral do HIV e, consequente, depleção de linfócitos T CD 4 . Bem como, a concomitância dessas infecções piora o prognóstico e a recuperação imune. |