DOR NEUROPÁTICA EM CRIANÇA - HERANÇA DE 3 GERAÇÕES VITIMADAS PELA HANSENÍASE - RELATO DE CASO
THAYSA GABRIELLE MARQUES DE MELO 1, ANA MARIA COELHO BEZERRA MARTINS1, JOSÉ CABRAL LOPES1, BÁRBARA COUTINHO OLIVEIRA1, LETÍCIA ROSSETTO DA SILVA CAVALCANTE1
1. HUJM - Hospital Universitário Júllio Muller
thaysammelo@gmail.com

A Hanseníase, a qual hoje tem tratamento curativo e eficaz, ainda permanece sub diagnosticada, tornando-se assim herança entre as famílias brasileiras. Doença infecciosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, acomete principalmente o sistema nervoso periférico e tegumento, sendo transmitida através de gotículas respiratórias de indivíduos infectados e sem tratamento. Atinge todas as idades, raças e classes sociais, sendo uma mazela de saúde pública. O presente relato foi realizado a partir da análise de prontuários e revisão bibliográfica. Relata-se caso de paciente do sexo feminino, 11 anos, procedente de Sinop-MT, com diagnóstico de hanseníase dimorfa há 6 meses, em tratamento com poliquimioterapia multibacilar padrão infantil, encaminhada ao ambulatório de dor do Hospital Universitário devido à queixa álgica nos membros inferiores e superiores, em luva e bota, respectivamente. Ao exame físico, apresentou os seguintes nervos bilateralmente dolorosos e espessados: cutâneo dorsal, auricular, fibular comum e ulnar. A avaliação diagnóstica fora realizada porque mãe e avó da paciente possuíam diagnóstico prévio e tardio de Hanseníase e estavam em tratamento. Ao exame físico, no momento da avaliação inicial, paciente apresentava áreas de ressecamento em joelhos e face lateral das pernas, onde havia esvaecimento de pelos, hipoestesia térmica, tátil e dolorosa, bem como já apresentava dor em nervos ulnares e espessamento doloroso de nervos fibulares comuns. Aplicado questionário de dor neuropática francês Douleur neuropathique validado para o português, paciente referiu apenas frio doloroso configurando um escore de 1 (dor não neuropática) e relatava o caráter de dor latejante. Nos meses seguintes, paciente evoluiu com anemia, neurite e dor neuropática. Necessitando de esquema alternativo com ofloxacino em substituição a dapsona para seguir em tratamento, além de corticoterapia por neurite e uso de antidepressivo tricíclico para dor neuropática, além de reavaliações por equipe multidisciplinar para manejo das sequelas. Conclui-se a importância de ressaltar que a hanseníase na realidade brasileira ainda é extremamente sub diagnosticada, atingindo assim múltiplas idades e gerações, não poupando as crianças, também afetadas pelas sequelas da hanseníase, muitas vezes incapacitantes. Deve-se, portanto, atentar-se ao diagnóstico precoce da doença, melhor forma de prevenir incapacidades e tanto sofrimento como o exemplificado neste relato.



Palavras-chaves:  Dor, neuropática, hanseníase