PARACOCCIDIOIDOMICOSE ORAL DIAGNOSTICADA POR DENTISTAS: RELATO DE CASO. |
Paracoccidioidomicose (PCM) ou blastomicose sul-americana é uma doença sistêmica e infecciosa, causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis encontrado em plantas e solo. O fungo é adquirido, sobretudo, por inalação através do trato respiratório e podendo ser disseminado pelas vias hematogênica e linfática, o que caracteriza a forma sistêmica da doença. A PCM também pode ser ocasionada pela inoculação de esporos na pele ou em mucosas, maiormente em regiões orais ou anais devido ao contato direto com lesões mucosas ulceradas, pertencente à forma localizada da doença. Este trabalho teve como objetivo relatar um caso de PCM diagnosticado por cirurgiões-dentistas, destacando a importância da etiopatogenia e história clínica para alcançar o diagnóstico definitivo. Homem de 43 anos de idade, tabagista e etilista, pedreiro e com um recente trabalho agrícola em plantação de cana-de-açúcar, procurou assistência com história de 1 ano de perda de peso, edema oral e lesão ulcerada dolorosa no lábio inferior. No exame extraoral foi observada abertura bucal limitada decorrente de uma cicatriz fibrosa na comissura labial esquerda e linfonodos cervicais normais. No exame intraoral foi observada uma úlcera branco-amarelada, moriforme, granulomatosa e eritematosa com aproximadamente 1,5 cm de diâmetro, bordas irregulares e não delimitadas na parte interna do lábio inferior. Foi realizada uma biópsia incisional a qual exibiu um epitélio escamoso ulcerado com hiperplasia pseudoepiteliomatosa, inflamação granulomatosa crônica e células gigantes multinucleadas na lâmina própria. O fungo Paracoccidioides brasiliensis foi observado como um parasita de parede dupla com gemulação simples utilizando-se a coloração com ácido periódico-Schiff (PAS). O paciente foi encaminhado a um infectologista e testes sorológicos para HIV, HTLV, sífilis e hepatite tiveram resultados negativos, além da radiografia de tórax dentro da normalidade. As evidências clínicas e histopatológicas confirmaram o diagnóstico de Paracoccidioidomicose oral. O tratamento foi iniciado com 200mg de Itraconazol via oral diariamente por 9 meses. Após este período, o paciente não apresentava sinais de lesões orais ativas ou edema. Ainda que os pulmões sejam o sítio primário pela inalação de esporos ou partículas do fungo, outros sítios podem ser afetados, inclusive a mucosa bucal. Logo, o cirurgião-dentista tem papel fundamental na identificação dessas lesões, no diagnóstico e encaminhamento para tratamento adequado. |